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quinta-feira, 19 de maio de 2016

ΑΩ A mulher FLAGRADA em ADULTÉRIO:

O relato de Jesus com a mulher flagrada em adultério é uma das mais célebres história de Jesus na Bíblia. Embora tão popular, o relato se baseia em apenas uma passagem do Novo Testamento, está em João 7:53-8:12, e nem mesmo ali parece fazer parte do contexto original.

Jesus, a mulher acusada de adultério e os acusadores

O quadro da história (ou seria: estória?) é familiar. Jesus está ensinando no Templo, e um grupo de escribas e fariseus, aproxima-se dele trazendo consigo uma mulher “que fora pega em flagrante adultério”. Eles a trazem à presença de Jesus porque querem pô-lo à prova. A Torah (chamada de Lei de Moisés e/ou Lei de Deus) prescreve que uma mulher dessas seja apedrejada até a morte (é o que dizem a Jesus); mas eles querem saber o que ele tem a dizer sobre o caso. Devem apedrejá-la ou mostrar misericórdia para com a mulher? Naturalmente, trata-se de uma armadilha. Se Jesus lhes disser para libertar a mulher, será acusado de violar a Lei de Deus; se lhes disser para apedrejá-la, será acusado de negligência para com seus próprios ensinamentos de amor, misericórdia e perdão.
Jesus cala-se, não responde imediatamente. Ele simplesmente abaixa-se para escrever na areia (dependendo da versão: terra ou chão). Quando eles dão continuidade a seus questionamento, Jesus lhes diz: “Aquele que não tem pecado seja o primeiro a lhe atirar uma pedra”. E retorna a escrever na areia, enquanto aqueles que tinham trazido a mulher começam a sair, um por um, até que ninguém restou, além da mulher. Levantando os olhos, Jesus diz: “Mulher, onde estão todos? Ninguém te condenou?” Ao que ela responde: “Ninguém, senhor”. Jesus responde: “Também eu não te condeno. Vai e não peques mais”.
É uma “história” brilhante, cheia de sentimentos e com uma guinada engenhosa na qual Jesus usa sua inteligência para se livrar da armadilha. Obviamente para um leitor atento a história levanta várias perguntas. Se essa mulher foi pega em flagrante adultério, onde está o homem com quem ela adulterou? Ambos (e não somente a mulher) devem ser apedrejados, de acordo com a Lei de Moisés (Levítico 20:10). E mais, o que Jesus escreveu na areia exatamente? De acordo com alguns intérpretes, ele escrevia os pecados dos acusadores, que, ao verem seus próprios pecados ali escritos, ficaram completamente constrangidos. Mas, mesmo que Jesus tenha ensinado uma mensagem de amor, ele realmente achava que a Lei de Deus dada por Moisés perdeu o valor e que não precisava mais ser obedecida? Pensava ele que os pecados não deviam mais ser punidos?
Apesar da história ser brilhante e cativante, ela levanta um outro enorme problema. Ao que tudo indica, ela não é parte original do Evangelho de João. Aliás, não é parte original de Evangelho algum. Trata-se de um acréscimo posterior. Como se sabe disso? A verdade é que, pesquisadores do mundo todo que estudam a tradição manuscrita não têm dúvidas a este respeito! Como chegaram a esta conclusão? Analisando, obviamente, alguns fatos: a história não se encontra nos mais antigos e melhores manuscritos do Evangelho de João; seu estilo de escrita é, em tudo, diferente do que vemos no Evangelho de João (inclusive os relatos que vêm antes e depois); inclui-se um enorme número de frases e termos que são, por outro lado, estranhos ao Evangelho de João. Concluindo assim com toda certeza que: essa passagem bíblia não faz parte originalmente do Evangelho de João. E isso tem deixado os leitores num dilema: se essa história não fazia parte originalmente do Evangelho de João, pode ser considerada parte da Bíblia? Um texto “inspirado” por Deus? Com toda certeza, nem todos responderão a essas perguntas da mesma forma, mas para a maioria dos críticos textuais a resposta é: NÃO!

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

ΑΩ - As Tribos de Israel:



A Terra de Israel (Eretz Yisrael) é o berço do povo judeu. Uma parte importante da longa história do país se passou lá, com dois mil anos sendo registrados na Bíblia; lá, sua identidade cultural, religiosa e nacional foi formada, e sua presença física foi mantida através dos séculos,mesmo após a maioria do povo ter sido exilada. Durante o longo período de dispersão, o povo judeu nunca cortou nem esqueceu sua conexão com a Terra. Após o estabelecimento do Estado de Israel em 1948, a independência judaica, perdida dois mil anos antes, foi renovada. 
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As Doze Tribos de Israel
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A história judaica começou há cerca de quatro mil anos (cerca do século XVII AEC) com os patriarcas: Abraão, seu filho Isaac e seu neto Jacó. Documentos encontrados na Mesopotâmia, datados de 2000 a 1500 AEC, confirmam aspectos de sua vida nômade, tal como descrito na Bíblia. O livro do Gênesis relata que Abraão foi chamado de Ur dos Caldeus para Canaã, para formar um povo com a crença no Deus Único. Quando a terra de Canaã foi assolada pela fome, Jacó (Israel), seus 12 filhos e suas famílias foram para o Egito, onde seus descendentes foram escravizados. 
Depois de 400 anos de escravidão, os israelitas foram libertados por Moisés, que, segundo a narrativa bíblica, foi escolhido por Deus para tirar seu povo do Egito e levá-los novamente à Terra de Israel, prometida a seus antepassados (cerca dos séculos XIII e XII AEC). Durante 40 anos, eles percorreram o deserto do Sinai, onde formaram uma nação e receberam a Torá (Pentateuco), que incluía os Dez Mandamentos e deu forma e conteúdo à sua fé monoteísta. O êxodo do Egito (cerca de 1300 AEC) deixou uma marca indelével na memória nacional do povo judeu e tornou-se um símbolo universal de liberdade e independência. Todo ano, os judeus celebram a Pessach (Páscoa), o Shavuot (Pentecostes) e o Sucot (Festa dos Tabernáculos), relembrando os eventos ocorridos naquela época. 
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Durante os dois séculos seguintes, os israelitas conquistaram a maior parte da Terra de Israel e tornaram-se agricultores e artesãos; em seguida, veio a consolidação econômica e social. Durante períodos alternados de paz e guerra, o povo se uniu, representado por líderes conhecidos como juízes, escolhidos por suas capacidades políticas, militares e de liderança. A fraqueza inerente a essa organização tribal diante da ameaça representada pelos filisteus (povo marítimo da Ásia Menor estabelecido na costa do Mediterrâneo) gerou a necessidade de um governante permanente para unir as tribos, com sucessão por herança.  


O que houve com as Tribos de Israel??
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Um dos elementos que mais intrigam os estudiosos é o destino das Tribos de Israel, sobretudo as 10 tribos do norte, cuja referência cessa completamente após as invasões.
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Tribos que se perderam:
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As conquistas assírias no século VIII AEC abriram caminho para a conquista do reino do norte de Israel. A queda de Samaria significou o fim do estado israelense. Seu povo, ou aqueles que sobreviveram, foram deportados para a Assíria e redistribuídos por todo seu território. Neste momento, as 10 tribos do norte desapareceram por completo do relato bíblico. O mais provável é que qualquer traço de união tribal tenha desfalecido com a fragmentação das comunidades israelitas, e que os hebreus que sobreviveram ao processo tenham se unido a estrangeiros e abandonado suas tradições.
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A tribo que sobreviveu:
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Apesar da queda de Jerusalém, menos de 2 séculos depois, os descendentes de Judá, ao serem levados ao exílio no reino da Babilônia, mantiveram fortes laços culturais entre si. É possível que tivessem mantido esta união graças às profecias de Jeremias, que previu que o exílio duraria 70 anos, e que o povo seria libertado e mandado de volta a Jerusalém ao final deste período; a fé conjunta na realização da profecia teria mantido a tradição da tribo de Judá intacta, se não fortalecida. É no período de exílio que surge pela primeira vez de maneira consistente o termo judeu, se referindo a todos os membros da tribo de Judá.
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Passado o tempo previsto por Jeremias,Ciro, o Grande conquistou a Babilônia, e enviou os judeus de volta à Terra de Israel, designando para eles a província de Yehud, de maneira geral, o mesmo território do antigo reino de Judá. Os judeus ali habitaram até o século II EC. 
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Reinos Divididos

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Entre o fim do exílio babilônico e a diáspora, os judeus nutriram um forte senso de união e resistência a dominação estrangeira, tão forte que, mesmo após sua expulsão definitiva da Terra de Israel pelos romanos, os judeus mantiveram laços entre as distantes comunidades formadas por toda Ásia, norte da África e Europa, verdadeiras redes através das quais sobreviveram suas tradições. Durante este período, o termo "judeu" significando um seguidor da religião judaica (para a época) suplantou o significado tribal do termo, e muitos estrangeiros de origem não semita se declaravam judeus. De toda forma, através dos judeus e do judaísmo, a tradição da tribo de Judá sobreviveu até os dias de hoje.

sábado, 1 de agosto de 2015

ΑΩ Caminhando no Cristianismo:


O cristianismo é, em sua raiz, um culto de personalidade. A sua mensagem central é a história de uma pessoa, Jesus: um aspecto de Deus, mas que também é um ser humano, definido no tempo histórico.
Existem dois mil anos de histórias cristãs, o que pode parecer uma tarefa difícil para historiadores. No entanto, dois milênios não é muto tempo. O cristianismo precisa ser visto como uma religião nova, muito mais nova do que, por exemplo, o taoísmo, budismo, hinduísmo ou sua própria "mãe" - o judaísmo.
Após a vida de Jesus, a história do cristianismo só continuou unificada por aproximadamente três séculos antes de começar a divergir em famílias de línguas: falantes de latim, grego e de línguas orientais (o principal deles sendo, é claro, o próprio Jesus Cristo).

Mosaico da imagem de Jesus


Trajetórias diferentes:

Uma divisão surgiu porque uma seção do cristianismo, a igreja dentro do império romano, estava recebendo patrocínio e cada vez mais apoio de Constantino (que sucedeu os imperadores que tinham anteriormente perseguido a religião).Os cristãos ao leste desse império não receberam suporte.
Era esperado que o cristianismo do Oriente Médio se tornasse dominante, já que esta região era a pátria de Jesus e a língua falada por aqueles cristãos siríacos ainda era parecida com o aramaico da época de Jesus.
Quando um imperador romano procurou impor na Calcedônia uma solução para um problema teológico difícil - como falar das naturezas divina e humana de Jesus - a maioria dos sírios recusou a sua solução. Os cristãos siríacos realizaram feitos notáveis de missão no nordeste da África, Índia e sudeste da Ásia, embora a sua história tenha sido alterada por um novo monoteísmo da mesma pátria semita, o islamismo. Ainda assim, no século VIII da era cristã, a grande cidade de Bagdá teria sido uma capital mais provável para o cristianismo do que Roma. O surgimento do islamismo é a principal razão pela qual a história cristã se voltou para outra direção.

Dois símbolos do cristianismo


História moderna:

A partir de 1700, as três histórias convergem mais uma vez, quando o mundo se uniu pela expansão dos impérios cristãos. Apesar de sua atual variedade, os cristianismos modernos estão mais próximos do que estavam antes, nas primeiras gerações do Oriente Médio no século I.
Paralelamente a essas narrativas, está a história confusa e muitas vezes trágica das relações entre cristianismo, judaísmo e também o islamismo. Durante a maior parte de sua existência, o cristianismo tem sido a religião mundial mais intolerante, esforçando-se ao máximo para eliminar todas as concorrentes.

Houve enormes consequências quando os monarcas dos séculos 15 e 16 da Península Ibérica (Espanha e Portugal) reinventaram sua sociedade multirreligiosa em um monopólio cristão e depois exportaram essa forma de crença para outras partes do mundo. A destruição do judaísmo e islamismo espanhóis depois de 1492 teve um papel importante no desenvolvimento de novas formas de cristianismo, que não só desafiou boa parte do pacote de ideias antigas da Igreja, mas também promoveu a mentalidade que levou, nos séculos 17 e 18, ao Iluminismo no ocidente.
O cristianismo era um ramo marginal do judaísmo, e Jesus, não deixou nenhuma obra escrita conhecida. Jesus parece ter afirmado que a trombeta soaria para o fim dos tempos muito em breve, e em uma grande ruptura com a cultura em torno dele, disse a seus seguidores para deixarem os mortos sepultarem os seus próprios mortos.

Figuras que tipificam o islamismo, judaísmo e cristianismo


Tais seguidores sobreviveram a uma grande crise de confiança no final do primeiro século quando os Últimos Dias não chegaram. O cristianismo emergiu disso como uma instituição muito diferente do movimento "criado" por Jesus, ou até mesmo por seu primeiro grande apóstolo, Paulo.
Embora os historiadores modernos não tenham nenhuma capacidade especial para serem árbitros da verdade ou de religiões, eles ainda têm um dever moral.
Devem procurar promover a sanidade e conter a retórica que gera o fanatismo. A crença religiosa pode estar muito próxima da loucura. Essa mesma crença levou os seres humanos a atos de insanidade criminosa, bem como às maiores conquistas de bondade, criatividade e generosidade.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

ΑΩ - Exorcismo

Exorcismo é o ato de expulsar ou expelir demônios ou espíritos malignos geralmente de pessoas; podendo existir casos envolvendo lugares ou objetos. Segundo a visão religiosa, o ritual de exorcismo só ocorre quando constatada a possessão demoníaca (pelo diabo ou seus anjos). Esse ritual é praticado por padres católicos, há relatos de que outras culturas também realizavam rituais semelhantes a esse. Atualmente, a Igreja Católica Apostólica Romana ainda acredita em possessões diabólicas e seus sacerdotes realizam o “exorcismo real”, um ritual de 27 páginas onde se utiliza água-benta, preces e relíquias (ou símbolos cristãos) com o objetivo de expulsar demônios ou espíritos malignos. Existem igrejas protestantes que também acreditam em possessão demoníaca e praticam um ritual de expulsão desses espíritos, porém, diferente do catolicismo, o protestantismo executa a expulsão unicamente pelo uso do nome de Jesus e de palavras proféticas. Na Igreja Católica são praticados três tipos de exorcismo:
• Exorcismo batismal: é o ato de abençoar a criança antes do batismo com o objetivo de purificá-la do mal.
• Exorcismo simples: é o ato de abençoar um objeto ou lugar para acabar com toda e qualquer influência maligna.
• Exorcismo real: é o ato de expulsar um demônio e/ou demônios de uma pessoa.

Fotos REAIS de Emely Rose - Fato real que deu origem ao filme:
O Exorcismo de Emily Rose 

Quando chegam à Igreja relatos de que existe um possível caso de possessão diabólica, começa o processo de investigação. Procedimento necessário para esclarecer se a pessoa sofre de algum problema de saúde mental, pois todas as hipóteses humanas são investigadas. Estabelecido que se trata realmente de um caso de possessão verdadeira, a Igreja (Católica Romana) indica um exorcista, esse normalmente é o mesmo padre que realizou a investigação. Durante o ritual, o padre exorcista deve se confessar ou, pelo menos, obter um ato de contrição - arrependimento ou dor profunda por ter magoado a Deus. Ele veste sua sobrepeliz e a estola roxa, faz o sinal da cruz em si mesmo e nos demais envolvidos no ritual, depois, joga água-benta em todos e no recinto, isso serve para preparar o exorcista, as pessoas presentes e o local. Tudo sido feito corretamente, o ritual tem início com a chamada Ladainha dos Santos, em que o exorcista recita a ladainha e todos os presentes devem responder com fé e convicção.
Além da Ladainha dos Santos, o padre lê o salmo 53, dá os comandos ao espírito que se encontra dentro do possuído. Todos leem todas as lições do evangelho e a parte mais importante do exorcismo que é quando o padre lê as palavras de expulsão do demônio. Cantam o Cântico de Nossa Senhora (Lucas 1: 46-55) e falam a Oração após a libertação.

Qualquer ritual igual ou semelhante ao do exorcismo, deve ser praticado unicamente por pessoas capacitadas, além de ser necessária uma investigação a fim de eliminar todas as possibilidades terrenas, para usar os recursos religiosos. É importante lembrar que, já houve casos de morte durante a tentativa de exorcismo católico e protestante. Exemplo: O Exorcismo na moça de nome Emily Rose (fotos acima).

sexta-feira, 1 de maio de 2015

ΑΩ - O Novo Testamento "Original", está perdido??
Não estou expondo estes vídeos para denegrir a fé de ninguém (creio que, mesmo que eu quisesse, não o conseguiria), quero apenas que sirvam como fontes de pesquisa e questionamento individual.

Nestes vídeos, Bart D. Ehrman levanta questões importantíssimas a respeito da "originalidade" dos livros que compõe o Novo Testamento de hoje. Questões essas, que nos faz pensar a respeito de sua "inspiração" de que tanto é defendida pelos cristãos atuais. Os vídeos estão em áudio original inglês com legendas em português, vale a pena assisti-los e tirar suas próprias conclusões.


Devo dizer que como pesquisador, não tenho uma visão e opinião religiosa a respeito do assunto, porém, não cabe a mim defender ou ofender a crença nem a religião de ninguém, sou totalmente neutro.

Vamos aos vídeos:

 

 




sábado, 7 de março de 2015

ΑΩ - O Jesus Histórico


Os miticistas, um tanto quanto ironicamente, prestam  um desserviço aos seus leitores humanistas. Ao firmar uma posição que quase ninguém mais aceita, eles se expõem ao ridículo e a acusações de desonestidade intelectual. No entanto, isso é totalmente desnecessário para alcançar seus objetivos. É evidente que, para os miticistas, a fé em Jesus é um problema. Mas o problema de Jesus não é que ele seja um mito inventado pelos cristãos primitivos - isto é, que ele nunca tenha sido um personagem real no palco da história. O problema de Jesus é justamente o contrário. Como Albert Schweitzer percebeu há muito tempo, o problema do Jesus histórico é que ele era histórico demais.



Muitos televangelistas, pregadores cristãos populares e donos daquelas empresas que chamamos de megaigrejas, compartilham uma visão moderna irrefletida sobre Jesus - a de que ele pode ser fácil e quase automaticamente traduzido para uma linguagem moderna. O fato, no entanto, é que Jesus não era uma pessoa do século XXI que falava a língua ocidental cristã moderna; Jesus era inescapável e irrefutavelmente um judeu da Palestina do século I. Ele não era igual a nós, e se tentarmos recriá-lo à nossa imagem, transformaremos o Jesus histórico numa criatura inventada para nós e nossos propósitos.
Jesus não se reconheceria na pregação da maioria de seus seguidores atuais. Ele não sabia nada de nosso mundo. Ele não era capitalista. Ele não acreditava na livre iniciativa. Ele não defendia o acúmulo de riquezas ou das coisas boas da vida. Ele não acreditava em educação em massa. Ele nunca ouvira falar em democracia. Ele não tinha nada a ver com frequentar igreja. Ele não sabia nada de previdência social, cupons de alimentação, bem-estar social. Até onde sabemos, não expressou nenhuma opinião sobre as questões éticas que nos atormentam hoje em dia: aborto e direitos reprodutivos, casamento entre pessoas do mesmo sexo, eutanásia ou bombardeios no Irã. 
Seu mundo não era o nosso, suas preocupações não eram as nossas e, mais surpreendente ainda: suas crenças não eram as nossas.

Jesus foi um judeu do século I, e quando tentamos transformá-lo, por exemplo, em um latino-americano do século XXI distorcemos tudo o que ele era e tudo aquilo que representava. Jesus era completamente sobrenaturalista. Acreditava no Diabo e em demônios e nas forças do mal agindo neste mundo. Ele sabia pouco (ou quase nada), sobre o funcionamento do Império Romano. Mas o pouco que sabia considerava nocivo. É possível que considerasse toda forma de governo nociva, a menos que fosse uma teocracia (futura) a ser governada por Deus por meio de seu messias.
Ele certamente não defendia nossas visões políticas, sejam quais forem no momento.

Essas forças do mal estavam impondo seu controle sobre o mundo de maneira cada vez mais vigorosa. Mas Jesus achava que Deus iria intervir em breve e destruir todas elas para trazer Seu reino à terra. Isso não viria de esforço humano, viria de Deus, quando Ele mandasse um juiz cósmico para destruir a ordem atual e estabelecer o reino de Deus aqui na terra. Isso não se tratava de uma metáfora para Jesus. Ele acreditava que seria assim, e logo, dentro de poucos anos, na sua geração.
Jesus se enganou quanto a isso. Ele se enganou sobre muitas coisas. As pessoas não querem ouvir isso, mas é verdade. Jesus era um homem de sua própria época. E, assim como homens e mulheres de suas próprias épocas se enganam sobre tantas coisas, o mesmo ocorreu com Jesus, e o mesmo ocorre conosco.

Portanto, o problema de Jesus é que é impossível removê-lo de sua época e transportá-lo para a nossa sem recriá-lo completamente. Quando o recriamos, não temos mais o Jesus da história, mas o Jesus de nossa imaginação, uma invenção monstruosa criada para servir aos nosso propósitos. Mas não é tão fácil assim transplantar e modificar Jesus. Ele é extremamente resistente. Ele permanece sempre em sua própria época. Conforme os modismos sobre Jesus vêm e vão, e novos Jesus são inventados e desaparecem, substituídos por Jesus ainda mais novos, o Jesus real, histórico, segue existindo no passado. Ele era o profeta apocalíptico que esperava a ruptura cataclísmica ainda no tempo de sua geração, com Deus destruindo as forças do mal, estabelecendo seu reino e instalando o próprio Jesus no trono. Esse é o Jesus histórico. E ele é obviamente histórico demais para o gosto moderno. É por isso que tantos cristãos tentam reformá-lo hoje em dia.      


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

ΑΩ - Paulo, o Lobo com Pele de Ovelha

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Jesus disse: "Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes. Pelos seus frutos os conhecereis" (Mateus 7, 15)
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Ilustração da imagem de Paulo de Tarso
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Paulo era um falso Apóstolo, mas um verdadeiro patife. Fazer passar-se por um dos Doze escolhidos não foi a sua primeira obra contra Jesus. Como se sabe, e como o próprio Paulo diz em várias das suas cartas, em tom de orgulho, por vezes, antes da sua "conversão", Paulo, chamado Saulo na altura, era o maior perseguidor dos seguidores de Jesus. Esteve, inclusive, diretamente envolvido no primeiro martírio, de Estêvão.
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Há um outro episódio de perseguição que não se encontra relatado na Bíblia, mas sim numa carta de Pedro que faz parte do Novo Testamento Essênio. Tiago, um dos Apóstolos mais importantes, a par de Pedro e João, encontrava-se no Templo a convite dos líderes judeus, para discursarem. Primeiro falou o sacerdote, e depois Tiago tomou a palavra e falou-lhes sobre Jesus e os seus ensinamentos. Tudo o que dizia surpreendia os que o ouviam, por ser uma doutrina tão inovadora. As palavras de Tiago foram convincentes e muitos se converteram. Menos um, que se encontrava no auditórioPaulo.
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Quando Tiago se calou, foi a vez de Paulo falar e proferir palavras inteligentes, mas cheias de raiva. Paulo era uma fera, e conseguiu virá-los contra Tiago e os discípulos que ali estavam, gerando-se um motim em que dezenas foram assassinados. Paulo dirigiu os seus esforços pessoais a Tiago, atirando-o do cimo das escadas. Julgando-o morto, foi se embora e deixou-o ali.
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Por sorte, Tiago não morreu. Mas Paulo não desistiu e continuou a sua perseguição, falando contra Jesus, os seus seguidores e a sua doutrina sempre que podia. Para ele, tudo aquilo era uma abominação.
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Mas o que é certo é que os Apóstolos eram bem sucedidos, e o núcleo de seguidores aumentava de dia para dia. A clara oposição violenta de Paulo não estava a funcionar, por isso estava na altura de pôr em prática o plano B"se não os podes vencer, junta-te a eles... e destrói-os por dentro".
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Aqui entra a fantástica "conversão" na Estrada para Damasco. Paulo diz ter tido uma visão de Jesus, que lhe perguntou, "porque me persegues?" E supostamente nesta altura, Paulo emendou os seus erros e tornou-se "apóstolo". Mas como costumam dizer: "mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo". Primeiro porque os mentirosos têm tendência a dizer "não estou a mentir", o que Paulo faz constantemente (Gálatas 1, 20 por exemplo: "Ora, acerca do que vos escrevo, eis que diante de Deus testifico que não minto!")
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Outro sinal de uma mentira é que a história nunca se mantém. De cada vez que a conversão é relatada, os pormenores mudam (Atos 9, 3-19; Atos 22, 6-15; Atos 26, 2-19). Até mesmo o que se passou depois é incerto, já que é relatado de uma maneira num lado (Atos 9, 19-27) e doutra noutro (Gálatas 1 e 2).
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Ao que parece, os Apóstolos tiveram algumas dificuldades com esta mudança de Paulo. Primeiro, duvidaram e tiveram medo da sua aproximação. Depois, aceitaram. E quando viram que Paulo NÃO estava interessado em seguir o que Jesus disse, renegaram-no.
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João falou indiretamente de Paulo, não só no Apocalipse, mas também nas suas cartas. João tinha o hábito de não referir certas pessoas pelo nome, mas sim por títulos ou por ações. Já no Evangelho, há um "discípulo que Jesus amava", interpretado pela tradição mais ortodoxa como sendo o próprio João, ou segundo outras interpretações, Maria Madalena.
João avisa a respeito de "falsos profetas", e enumera algumas das suas características: não seguem os Apóstolos (1 João 4, 6), ensinam doutrinas contrárias, nomeadamente que Jesus não tinha um corpo inteiramente humano (1 João 4, 2), fizeram parte do grupo (de discípulos) mas afastaram-se (2 João 2, 19), e não cumprem os ensinamentos de Jesus ( 2 João 1, 9).
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Tudo isto se aplica a Paulo. Se Paulo se "converteu" e foi falar com os Apóstolos, é evidente que depois se separou deles. O próprio o diz, que se separou e foi sozinho pregar aos gentios (Gálatas 2, 9). Também sabemos que Paulo não achava que os Apóstolos fossem grande coisa, apenas "pareciam ser pilares", mas a ele "não lhe acrescentavam nada". Não só não os ouvia, como chegou a confrontar Pedro publicamente sobre as suas ações, condenando-as (Gálatas 2, 11).
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Paulo ensinava coisas contrárias à doutrina ensinada pelos Apóstolos. No que toca à humanidade de Jesus, Paulo dizia que Jesus tinha sido enviado na "aparência de carne humana" (Romanos 8, 3). Os Apóstolos por seu lado diziam que Jesus era inteiramente humano. E quanto a seguir os ensinamentos de Jesus, isso era coisa que não interessava a Paulo. Aliás, se nos guiássemos por Paulo apenas, nunca saberíamos nada do que Jesus disse ou fezporque Paulo nunca fala sobre issoApenas ensina as suas próprias ideias e considerações.
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Pela segunda vez temos de João a confirmação que Paulo não vinha da parte de Jesus (Apocalipse e cartas). Mas apesar das advertências dos Apóstolos, Paulo conseguiu o que queria. O seu séquito cresceu, o que não é surpreendente, já que o seu "evangelho" é bem mais fácil e conveniente do que a Mensagem de Jesus. E assim, a verdadeira doutrina foi obscurecida
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Quando o evangelho de Paulo chegou a Roma, Paulo atingiu o auge da sua carreira. Foi a sua melhor jogada. E até aos dias de hoje, Cristianismo é apenas o nome que se dá à religião que Paulo criou. Um nome mais apropriado seria Paulinismo, porque de Cristo há nela muito pouco.